quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Transtornos Alimentares

Quando se fala desse tema, deve-se considerar a dimensão fisiológica nutritiva, como os aspectos endócrinos, metabólicos e neuronais; a dimensão psicodinâmica e afetiva, aquela que considera que a fome seja vinculada a satisfação e ao prazer oral; e a dimensão relacional, aquela que considera a relação do sujeito com a família e com a sociedade. Esta última é de grande importância para terapeutas familiares, pois busca a compreensão de por que esse sintoma apareceu, desenvolveu e permaneceu no sistema de forma a encobrir certas dinâmicas familiares, bem como segredos e os não ditos.
Além disso, deve-se considerar a dimensão histórica, social e cultural. Observa-se que antigamente, ser gordo era sinônimo de riqueza. Já hoje, a mídia supervaloriza o tema de alimentação e, inconscientemente, impõe novos conceitos de beleza relacionado à magreza. Assim, não é mais bonito ser gordo e sim ser magro. Observa-se, também, que, na pós-modernidade, o sujeito vem sofrendo várias influências socioculturais, cujos resultados são o individualismo, a satisfação rápida, o consumo desenfreado, os relacionamentos frágeis entre os membros da família e entre o sujeito e a sociedade e, por tudo isso, o surgimento de alto índice de transtorno alimentar como a anorexia ou a bulimia.
A anorexia caracteriza-se pela perda de peso auto-induzida por abstenção de alimentos que engordam ou por comportamentos como vômitos e/ou purgação auto-induzidos, exercício excessivo e uso de anorexígenos e/ou diuréticos. Há uma busca pela magreza e há o medo de parecer gorda. Do ponto de vista, psicopatológico, a característica da anorexia é a distorção da imagem corporal. Assim, pode-ser dizer que há a presença do transtorno dismórfico corporal, pois apesar de muito magra, a paciente percebe-se gorda. Não é incomum a anorética apresente episódios de bulimia (comer cumpulsivo seguido de vômitos e/ou purgação). Reconhecem-se, hoje, dois subtipos de anorexia: tipo restritivo, na qual a perda de peso é conseguida através de dietas, jejuns e exercícios; e o de compulsão periódica, na qual a perda de peso é conseguida através de vômitos auto-induzidos e laxantes. Um grande indicador de disfunção fisiológica nas mulheres anoréticas é a amenorréia, ou seja, elas param de menstruar, pois há uma redução da secreção do hormônio FSH e LH pela pituitária.
A bulimia é caracterizada por preocupação persistente com o comer e um desejo irressistível de comida, sucumbindo a paciente a repetidos episódios de hiperfagia (“ataques” a geladeira, por exemplo), e com o controle do peso corporal. As pacientes bulímicas também utilizam medidas extremas, como vômitos e purgações, para não aumentar o peso devido a ingestão de alimentos. Há um sentimento de falta de controle para se alimentar. O que diferencia dos indivíduos que possuem anorexia, é que os bulímicos, geralmente, estão dentro da faixa do peso normal, o que não acontece nos anoréticos. O que há em comum entre a bulimia e a anorexia é a psicopatologia central de ambas, que é a superestimação da forma e do peso corporal.
Há, também, casos de transtorno da compulsão alimentar periódica, que se caracteriza por episódios recorrentes em que o paciente come compulsivamente, mas não se tem o controle compulsivo de peso observado pelos bulímicos.
Nesses casos de transtornos alimentares, pode-se falar de uma somatização referente ao processo pelo qual um indivíduo usa (consciente ou inconscientemente) seu corpo ou sintomas corporais para fins psicológicos ou para obter ganhos pessoais. Em geral, há o desejo de adquirir o papel de doente físico para obter ganhos primários (psicológicos, intrapsiquicos) ou secundários (sociais ou interpessoais).

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