Hoje, o grande trabalho de qualquer ser humano em autoconhecimento – que pode ser realizado sob a orientação de um psicólogo – está intimamente ligado com a desconstrução de alguns mitos ou, vamos dizer assim, construções sociais, muitos dos quais trazem sofrimento para o sujeito, prejudicam a saúde emocional. Desconstruir esses mitos, no entanto, é um trabalho difícil, pois foram, por muito tempo, criados pelo homem e disseminados pela cultura contemporânea, que "impõe" um modo de viver característico, submetendo o sujeito a um padrão de vida. Então, homens e mulheres são submetidos ao enquadramento de alguns padrões considerados "normais" para a sociedade.
Essas construções sociais tornam-se problemas e podem levar sofrimento ao sujeito, quando naturalizam ou banalizam certos tipos de atitude ou comportamento. Há diversas construções sociais problemas. Eis algumas delas:
Homens protegidos pelo discurso biológico de que possuem muita testosterona – Muitas vezes, esses homens sentem-se "impunes" com a infidelidade sem proteção, sem se preocuparem com a sua saúde sexual e com a saúde de sua parceira e da sociedade como todo. Há, sim, uma diferença biológica, social e psicológica entre homens e mulheres, mas dizer que o homem pode querer ter sexo à vontade, e de qualquer jeito, não se justifica pela dose maior de testosterona.
No caso das mulheres, ainda existe o mito patriarcalista – Ela tem de ser submissa ao homem: Não pode, não pode, não pode! Esse discurso ainda protege alguns tipos de violência, como a própria repressão sexual. Por um olhar cronológico, percebemos que as mulheres estão ocupando seu espaço há muito pouco tempo. Só em 1985 foram criadas as delegacias de defesa da mulher para atendê-las no caso de serem vítimas de violência.
O mito do amor romântico, eternamente reforçado pela cultura – Até quando esse mito será alimentado? Criam-se expectativas em relação ao parceiro e ao casamento, que levam à escravidão emocional, ou seja, o sujeito e o relacionamento têm de estar nos moldes preestabelecidos, perfeitinhos, como nas fábulas e filmes, para a eterna felicidade. Como, muitas vezes, o sujeito não encontra essa perfeição, sente-se desencantado da vida, perdido.
A construção social de que o sujeito tem que ser belo e esbelto – Isso já virou condição indispensável para alguém fazer parte da sociedade. Percebe-se que comer é uma necessidade cada vez menor. Não era assim que se pensava anos atrás. Maslow, em sua teoria de hierarquia de necessidades, colocava necessidades fisiológicas básicas, por exemplo comer, como o primeiro patamar de sobrevivência. Sua teoria já foi refutada, mas pôr a necessidade de autoestima ou de auto-realização em primeiro lugar em vez das necessidades básicas de um ser humano merece uma reflexão.
Assim, perguntamo-nos: Como vivermos em uma cultura arraigada de construções sociais que nos prendem a alma? Como nos desvincular delas? Como fazer para que possamos nos liberar? Assim, é de se pensar sobre essa liberdade que se vende por aí. Que liberdade é essa que mantém o sujeito preso a certos padrões sociais que prejudicam a sua saúde?
A pós-modernidade, período pelo qual estamos passando, o sujeito volta-se para si, perdendo um pouco os referenciais. E os resultados são o individualismo, a satisfação rápida, o consumo desenfreado e os relacionamentos frágeis entre os membros da família e entre o sujeito e a sociedade. Será essa a explicação para o crescente nível de consumo de drogas e de suicídio? Há de se pensar!
Não há receitas para solucionar essas questões, mas é no existir e no relacionar-se que o sujeito aprende a ser ativo na vida social. Podendo refletir, pensar e questionar esses mitos que a cultura e a sociedade promovem, já fica mais fácil a busca da saúde emocional.